terça-feira, 8 de novembro de 2011

Orar é Transcender

Estive conversando com uma pessoa amiga sobre a oração, e o poder que ela exerce, não em nós, mas em Deus. Ela me dizia que orar não é somente balbuciar mecanicamente as palavras, mas viver a experiência do transcender, do sair de mim e ir ao encontro de Deus, ou, antes, por ser impossível ao homem chegar até o Senhor, deixar que Ele venha até nós, pelo canal aberto na alma, pela oração.

Esta inevitável condição da alma – comunicar-se com seu Criador – “não é um ornamento piedoso da vida, mas o fôlego da existência humana” (O Sofrimento Que Cura, Henri J. M. Nouwen, ed. Paulinas, 4ª ed., 2010), e vem se perdendo a passos largos diante de um mundo relativizado. Se nada é absoluto, então tudo é relativo (e perdoem-me o trocadilho).

Eu penso que o ‘nada’ até poderá ser relativizado, porque o Absoluto não é criatura. É Ser. É Pessoa. Está viva. É Deus.

Para muitos, o cristianismo tornou-se uma ideologia. Daí o ceticismo. Eu posso crer ou não.

Entretanto, a mensagem cristã só poderá ser compreendida se experienciarmos o transcendente. É preciso, para bem compreender o Incompreensível, entregar-se, sem reservas, a esta vivência de orar.

Orar é entrar em si mesmo, deparar-se consigo próprio, iluminar suas trevas com a luz da razão e exorcisar os fantasmas que apavoram nossa alma ferida por tantos sofrimentos a que se nos impuseram: abusos sexuais, repressões, complexos de culpa, aborto, morte, separações, vergonhas. Assim vamos acumulando toda espécie de lixo em nós, e passamos a vida arrastando correntes, e passamos a ter medo de nós mesmos. Não queremos olhar para dentro de nós porque estamos cheios de lixo.

A oração vai nos limpando pouco a pouco desses lixos e vai nos libertando, aliviando nosso peso morto, e desembotando nossa visão entorpecida. Após passarmos por nós mesmos, veremos o Senhor, lá no âmago de nossa alma, bem lá no fundo, cuidando, curando, protegendo a nossa vitalidade, a nossa animae. É lá que reside nosso verdadeiro "eu", aquele de quem sentimos tanta falta! 


Precisamos ter coragem de nos enfrentar e cruzar esse mar de lama que acumulamos em nós, limparmo-nos, para podermos nos encontrar conosco e assim, encontrarmo-nos com Deus.

“Once was lost but now am found, / Was blind, but now I see.” (Amazing Grace, hino tradicional)

Não seremos nós, afinal, que desvendaremos o Senhor. Ele virá até nós pela nossa insistência em procurá-lO (Mt 7,7), e nos fará compreender Suas Vontades, Suas Verdades para nós, e nos fará amados por Ele.

Se você tiver a coragem de se enfrentar, e passar por si próprio, verá que Deus é real.

Leia hoje: Lc 17, 7-10

E seja feliz!

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